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A agenda de reconstrução dos próximos anos precisa discutir inovação e indústria

Este é um momento privilegiado para que gestores públicos respondam aos desafios do país. Inovação, indústria e o papel das universidades e centros de pesquisa serão temas cruciais

Carolina Botelho, para Headline Ideias
#POLÍTICA2 de mar. de 236 min de leitura
O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro discursa durante cerimônia de entrega de propostas econômicas da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) em outubro de 2022. Foto: Douglas Magno/AFP
Carolina Botelho, para Headline Ideias2 de mar. de 236 min de leitura

O recém-empossado governo tem diante de si desafios enormes. Não bastassem os ataques à democracia e às instituições republicanas brasileiras, produzidos em escala industrial como política de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva precisa, em pouco tempo, enfrentar também uma série de retrocessos das políticas públicas brasileiras.

Retrocessos que levaram o país a perder pontos em diferentes indicadores socioeconômicos nos últimos quatro anos. Será preciso inovar e criar políticas públicas adaptadas à nova realidade, que é distinta de seus governos anteriores.

Em resposta a essas questões, neste primeiro ano desafiador, o governo se esforça por se equilibrar para entregar serviços públicos capazes de melhorar a vida da população mais vulnerável - aquela que mais foi afetada pela falta de proteção por parte do governo Bolsonaro. Os mais vulneráveis foram as maiores vítimas do morticínio pela covid-19, pelo desemprego, pela diminuição da renda, pelo aumento da informalidade, pela restrição do acesso à educação e à saúde pública, especialmente nos anos mais agudos da pandemia.

O governo terá ainda que construir pontes com as elites estratégicas dos setores financeiros e econômicos do país. Estas, ainda saudosas da boa interlocução que estabeleceram com setores do governo Bolsonaro em prol de suas próprias agendas, estão pouco receptivas à chegada do novo time que foi eleito pela maioria da população.

Apesar desses grandes desafios, o período que atravessamos atualmente mostra-se privilegiado para a discussão de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da sociedade. É o momento em que governos nacional e subnacionais montam equipes para a construção de novas agendas e em que se renova a comunicação entre os recém-eleitos Legislativo e Executivo estaduais e nacional.

Aproveitando esse cenário, proponho aqui neste espaço uma reflexão sobre agendas que podem ajudar no desenvolvimento social e econômico brasileiro e que merecem atenção nos próximos anos: inovação, universidade e indústria no Brasil, bem como as conexões entre elas. 

É comum ouvirmos na pauta de discussão pública brasileira o debate sobre a necessidade de retomada do desenvolvimento industrial no Brasil, setor que sofre com sucessivas crises nas últimas décadas, muitas das quais ocorridas durante os governos petistas, que não conseguiram frear a queda da indústria no PIB brasileiro. Isso ocorre porque é conhecido o potencial desse setor para garantir maior crescimento constante e sustentável da economia.

Indústria é chave para economia brasileira

A melhora no setor industrial permitiria ao país um incremento em sua renda per capita, além de maior desenvolvimento econômico e um ambiente mais favorável à implementação de políticas de redução da pobreza e da desigualdade, males que têm nos afastado de ciclos mais sustentados de prosperidade. Por esses e outros motivos, há um consenso entre especialistas de que o setor industrial é um segmento chave e estratégico para a melhora da economia brasileira.

Entretanto, as evidências têm mostrado que, infelizmente, a sociedade brasileira tem se deparado com uma série de obstáculos que dificultam a necessária recuperação no setor industrial, o que por sua vez impacta negativamente o desenvolvimento econômico, e consequentemente, a possibilidade de domínio tecnológico por parte da sociedade.

Cabe lembrar que países mais ricos têm estado mais bem colocados na fronteira tecnológica mundial. Assim como o contrário parece verdadeiro, isto é, países cujas economias sofrem sucessivas crises permanecem em desvantagem tecnológica, como o Brasil. O desafio hoje é encontrar caminhos possíveis para que o país retome o desenvolvimento industrial através da inovação. E é bastante possível.

No que tange à discussão da inovação, é importante destacar que a própria Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu, em 2015, como um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030, a importância de “construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável, e fomentar a inovação” em todo o mundo. Este ODS, de número 9, desdobra-se em oito metas globais, adaptáveis às realidades de cada país, o que foi proposto no Brasil por um grupo de trabalho reunindo diversas instituições, que também apontaram indicadores disponíveis para monitorar seu cumprimento.

Em trajetória oposta à meta 9.2, a economia brasileira não apenas tem reduzido a participação da indústria em seu produto no século 21, mas falhado no mais relevante: ampliar de forma sustentada a produtividade do trabalho no setor. O ODS 9 serve de bússola ao explicitar o desafio global de tornar ambientalmente mais sustentáveis as atividades econômicas. E como isso passa, inevitavelmente, por iniciativas de modernização e aprimoramento da infraestrutura, diversificação produtiva, agregação de valor às commodities e acesso das pequenas empresas ao crédito e às tecnologias de informação e comunicação. Mais que tudo, a ODS 9 destaca a necessidade de desenvolvimento tecnológico, pesquisa científica e inovação como meios incontornáveis para atingir esses diversos fins.

Universidades pensando inovação e indústria

Existem experiências bem interessantes que têm sido colocadas em prática atualmente e que merecem atenção.

O ProETUSP – Programa Eixos Temáticos da USP –, uma iniciativa da Reitoria da Universidade de São Paulo, possui um grupo de estudo coordenado pelos professores Vanderley M. John e João Fernando de Oliveira, cujo trabalho tem sido o de refletir sobre  questões relativas à inovação e à indústria no Brasil.

Este e outros eixos do programa buscam cumprir papel importante no apoio científico e tecnológico para o desenvolvimento de diferentes agendas que se destacam tanto nacionalmente, quanto internacionalmente, permitindo e atribuindo à universidade o papel de instituição privilegiada e dotada de regras definidas, ao estilo de Douglas North, capazes de auxiliar a retomada de setores da economia brasileira e se preparando para os inúmeros desafios que temos a enfrentar nesses próximos anos.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, conversa com o chefe de gabinete Rui Costa durante a cerimônia de posse do vice-presidente Geraldo Alckmin, como ministro da Indústria e Comércio, no Palácio do Planalto, em Brasília, em 4 de janeiro. Foto: Evaristo Sá/AFP
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, conversa com o chefe de gabinete Rui Costa durante a cerimônia de posse do vice-presidente Geraldo Alckmin, como ministro da Indústria e Comércio, no Palácio do Planalto, em Brasília, em 4 de janeiro. Foto: Evaristo Sá/AFP

A centralidade da inovação para o desenvolvimento industrial e a das instituições de pesquisa e ensino para o desenvolvimento científico e tecnológico são premissas que fundamentam tanto as versões originais como as adaptadas ao Brasil das metas e indicadores do ODS 9. Nesse papel central, se faz necessário reforçar a participação das universidades, em especial daquelas que desenvolvem pesquisa e podem se tornar interlocutoras e promotoras de uma agenda que possui destaque no debate mundial.

A reconstrução do estado brasileiro requer a reformulação e a reconstrução de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da sociedade e que permitam que o país retome os espaços de diálogo entre as nações civilizadas. Sendo assim, este é momento privilegiado para que gestores públicos repactuem agendas públicas e respondam aos enormes desafios que o país tem nos próximos anos. Certamente, os temas da inovação, da indústria e do papel das universidades e centros de pesquisa nessas questões serão cruciais.

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